OUTRO MUNDO .

Outromundo Entrevista: DJ Tamenpi




Outromundo: Tamenpi, quando e como você começou a gostar de RAP, e deciudiu ser DJ?

DJ Tamempi: Meu primeiro contato com Rap foi em '93, '94. Com Racionais e Cypress Hill. Nessa época eu frequentava baile funk, que era bem diferente do que é hoje, e no começo dos bailes tinham as sessões de "rasteiros", que rolava uns 'Old School', mas eu nem sabia o que era aquilo, pra mim era "rasteiro". Escutando esses sons em casa, meu irmão me apresentou uma fita K7 com Racionais e Cypress Hill. Achei aquilo muito doido e comecei a me ligar em Rap. Mas o vicio só veio em '96 quando conheci Wu-Tang Clan. Aí a parada ficou séria. Comecei a pesquisar o estilo. Mas no Rio não existiam festas de Rap nessa época. Em '98 começou a Zoeira na Lapa. Ali eu comecei a entender o real sentido da parada. E decidi que era isso que queria fazer da vida. Como eu tocava bateria desde muleque, virar DJ foi uma parada até que natural. E de '99 em diante comecei a tocar.


Outromundo: Desde quando você tocou, o que mudou no seu jeito de tocar, no seu jeito de ver a música de lá pra cá?

DJ Tamempi: Comecei a aparecer e tocar em festas mesmos a partir de 2000/2001, em eventos na Lapa. Tinha um programa na radio comunitaria da Fundição, na Lapa, e dalí comecei a fazer meu nome. Em seguida comecei a tocar na Zoeira Hip-Hop. No começo era foda, pq no Rio o Rap underground não tem espaço, então fazia o trampo tocando a modinha pra conseguir aparecer. Depois voltei ao estilo que gostava, que era o Rap 'alternativo', o Rap com mais musicalidade. Com o Rap eu comecei a pesquisar musicas que não conhecia, atrás dos originais. E daí conheci a musica funk, soul, o jazz, musica brasileira, ritmos que não faziam parte da minha vida. E hoje eles são tão importantes pra mim quanto o Rap. Meu set hoje em dia, em lugares que eu tenho liberdade, é uma mistura de tudo isso. Hip-Hop, Funk, Soul, Samba, Reggae etc., etc., etc.


Outromundo: Você já tocou, ou toca, com grupos e MC's?

DJ Tamempi: Toda essa minha história dentro do rap foi lado a lado com o Torvi, atualmente conhecido como Gutierrez. Somos amigos desde '96. E ele era um dos únicos caras da minha área que curtia rap também. Então a parada foi meio natural. Quando comecei a tocar nós juntamos e formamos um grupo chamado S.A.R., depois por escolhas da vida e estilos diferentes, acabamos nos afastando profissionalmente. Em seguida comecei a trampar com o Marechal. Ele tinha acabado de sair do Qunto Andar, nós tinhamos ideias parecidas, gostávamos das mesmas coisas e trabalhamos durante um tempo junto. Depois disso não quis mais fazer nada com MC (risos). Atualmente, como moro em São Paulo com o Edu Lopes, tenho feito um trampo com A Filial.


Outromundo: Agora que você mudou de uma ponta do 'eixo' pra outra. O que você constatou de diferença na cena e na noite do Rio comparada com a de São Paulo?

DJ Tamempi: A noite do Rio não é profissional. A maioria das festas não são feitas por gente do Hip Hop. Salvo exceções, a noite do Rio deve muito. Fica só na modinha. Por causa disso em comecei a fazer a minha própria festa, com a minha linguagem musical, com pessoas que tem o mesmo conceito e, por incrível que pareça, já rola há dois anos seguido, todas as sextas num 'pub' chamado Clandestino, em Copacabana. As noites de Hip Hop em São Paulo são mais verdadeiras e mais valorizadas. Isso é uma coisa natural até. São Paulo sempre teve o Hip Hop como carro chefe, enquanto o Rio é o funk carioca.


Outromundo: Você também produz?

DJ Tamempi: É uma coisa que eu pretendo me dedicar mais. Sempre tive essa pilha. Tenho alguns beats prontos. Já saíram beats meus nos discos do Adikto, MC de Vitória, e do meu parceiro Funkero, do Rio. Mas é algo que eu ainda não me dedico da forma que gostaria. Mas ainda me dedicarei.


Outromundo: Quais são suas referências como DJ, influências, inspirações etc.?

DJ Tamempi: Minha principal referencia como DJ é o Primo. Ele me ajudou muito tanto aqui em SP como no Rio. O Primo era um amigo e um ídolo ao mesmo tempo. Posso te dizer que não é fácil achar alguem no mundo que toque como ele tocava. Ja vi diversos DJ's ditos fodões tocando, que o Primo colocava no bolso. A morte dele foi uma perda imensa pro Hip Hop no Brasil, acho que as pessoas não tem muito essa noção. Fora ele tem caras que eu piro como o Q-Bert, Mixmaster Mike, Revolution, Rob Swift. São muitos. Minhas influências estão centradas nas raízes do Rap. Funk, soul, reggae etc., etc., etc. Inspirações são muitas, nem tem como listar. E J Dilla é claro (risos), esse sim, me inspira muito.


Outromundo: Dentro do RAP no Brasil atualmente, quem você bota fé, acha bom mesmo?

DJ Tamempi: Pô cara. O Emicida é foda! Boto a maior fé nele. Pirei na MixTape dele, e isso é só a MixTape (risos), fora ele, tenho fé em gente verdadeira como Kamau, Parteum, Mamelo Sound System, Elo da Corrente, Shawlin, Gutierrez, Xará, Black Alien. É foda esquecer alguém. Mas tem uma galera que eu acredito. Ah, e ainda acredito no Marechal. É um talento nato, mas é foda. O cara não lança nada nunca (risos). Pode incluir A Filial também. Que apesar de ter uma linguagem diferente, mesclando a musica brasileira de raíz no Rap, sai bastante coisa boa.


Outromundo: Tem alguma festa que marcou sua vida, é inesquecível pra você?

DJ Tamempi: São muitas. O meu ínicio foi foda. Tocava um som diferente em uma cidade que só queria ouvir modinha. Teve duas festas, que acabaram sendo as festas que fizeram meu nome no Rio de Janeiro que são bem marcantes pra mim. Uma foi a Bunker Hip-Hop, festa produzida pelo DJ Saddam, em que comecei abrindo a pista pra ninguem e fui crescendo até me tornar um dos residentes. Nela fiquei durante três anos seguidos, e se tornou uma das principais festas de hip-hop do Rio de Janeiro nesse período. Várias atrações gringas, shows de gente do porte de MV Bill e Black Alien, batalhas lendárias de MC's. Era uma festa verdadeira. A outra foi a Let's Hop, que rolava na Casa da Matriz. Essa festa o Primo teve uma responsabilidade grande, pois foi ele que me apresentou pra produtora do evento, e disse: "Quando eu não puder vir, chama essa cara.". Na festa seguinte a mina me chamou, e fiquei de residente direto da Pista 2. Que era uma pistinha no segundo andar onde só tocava os rap de verdade, boom bap style. Tiveram edições que pra mim foram históricas ao lado do Primo, que arregaçava sempre que ia lá. Atualmente, a festa que eu faço no Rio faz a minha cabeça, pois lá faço sets diferentes, em um estilo meio freestyle, tocando de tudo, e isso é muito bom como DJ.


Outromundo: E o blog mano, o Só Pedrada, como começou, quando começou e por que?

DJ Tamempi: O blog começou em maio de 2006 por uma necessidade de colocar a minha pesquisa musical pra quem quiser ouvir. Muitos amigos me pediam pra gravar CD's com tal som, com tal disco. Eu ja era assíduo de blogs gringos e alguns brasileiros que tinham na época, e vi que era uma ótima forma de espalhar a minha pesquisa. Daí veio a idéia. Fazer um blog com os sons e discos que eu curto e quem tiver na mesma pilha sonora é só ir la e clicar em download. A parada cresceu e já ta aí há três anos direto. E com ele vi que não estou sozinho (risos). Muita gente curte as mesmas coisas que eu. E muitas outras quando conhecem os sons, viciam. Isso é classe demais!


Outromundo: O que você tem escutado ultimamente mano?

DJ Tamempi: De tudo. É só ver pelo blog. Escuto algumas cenas diferentes do Rap. Muito funk, inclusive uma cena interessante de bandas fazendo um novo funk, com diversas influencias. Afrobeat, reggae, jazz, musica brasileira. Atualmente to pirando nos discos do Mos Def, no novo do Dilla, Tanya Morgan, El Michels Affair tocando Wu-Tang, Mulatu Astatke, Hypnotic Brass Ensemble. Mano, é muita coisa. O disco do Q-Tip que já saiu tem um tempo, eu ainda escuto todo dia.


Outromundo: Então mano. Primeiramente muito obrigado. E esse é o seu momento, deixe aí recados, cobranças, agradecimentos, links, contatos etc.

DJ Tamempi: Então. Valeu pelo espaço. Maior satisfação. Espero que o povo comece cada vez mais a prestar atenção e não aceitar qualquer merda de musica que é imposta. O nosso ouvido tem que ser seletivo. Pra quem quiser ouvir musica de qualidade, tem varios blogs aí na rede oferecendo de graça. Tanto esse aqui, quanto o meu. É só pesquisar. Pra quem for do Rio de Janeiro, estou todas as sextas no Clandestino, com a festa Black Friday, junto a meu camarada DJ Joca-San. Lá você pode ter certeza que só vai ouvir música de qualidade, nada de modinha, quem quiser colar, fica na Barata Ribeiro número 111, em Copacabana.

Só Pedrada

Paz!

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Ouvindo: De Onde Venho - Cindy (Participaçao de Kamau & Max B.O.)

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