OUTRO MUNDO .

OutroMundo Entrevista Marcello Gugu



OutroMundo: Como foi seu início no RAP? Na escrita e no freestyle.

Marcello Gugu: Bom, meu início no rap, acredito eu, se deu diferente da maioria, eu começei fazendo freestyle. Já ouvia muito rap, porém nunca tinha sentado para escrever uma rima. Escutei aquele trabalho KL Jay na batida volume 3, a faixa do Kamau e JL e pensei: "Se eles fazem, eu também posso fazer". Pegava a primeira rima deles, e mudava o final, assim fui começando a brincar com as palavras, a ter intimidade com o Free. Pra começar a escrever foi cabrero. Porque assim, eu era preguiçoso, e o freestyle te acomoda, juntou a fome com a vontade de comer, e eu me ferrei, Hahahaha'. Pra começar foi tenso, uma que sou meio perfeccionista e eu nao faço música forçada. Acho que sentar e escrever exige toda uma concentração. Você não simplesmente senta e fala: "Eu vou escrever uma letra". Acredito que você tem que trabalhar mentalmente pra que sua mente e energia auxiliem no processo criativo, fazendo com que você expresse tudo aquilo que deseja. Começei a me reeducar, sentando pra escrever todo dia, mesmo que fosse freestyle. e hoje ja consigo ter um resultado mais concreto desse tipo de doutrina.

OutroMundo: E como foi pra voce começar nas batalhas?

Marcello Gugu: Sempre curti o formato de batalha. A adrenalina, o momento, as bases, a galera, as rimas, tudo isso sempre me fascinou. Acho batalha um lugar excelente pra tu treinar, trabalhar raciocinio, mostrar habilidade. Pra mim sempre foi tranquilo, e quando começei nunca pensei em chegar longe com isso, acho até que pouca gente sonha em chegar longe quando ta no começo da parada. Quando fui ver, me dar conta memo, a Santa Cruz tava com 2 anos, tinha vencido a etapa da Liga e as batalhas já estavam numa nova geração de MC's. Fiz grandes amigos batalhando com eles, amizades que hoje são maiores que o RAP até, já são amigos fora do RAP também e agradeço a DEUS pela oportunidade de ter cruzado com eles, dentro das rodas de batalha HAHAHAHAHA'.

OutroMundo: Atualmente no que está se dedicando mais, na escrita ou no freestyle, batalha?

Marcello Gugu: Atualmente me dedico na escrita, não que tenha parado de fazer freestyle ou até mesmo beats, que fazia por hobby, mas acho que no momento estou mais focado em trabalhar minhas rimas decoradas. Freestyle é fantastico, você transforma o momento em música, porem é efêmero, passa rápido, porque os momentos são únicos e passageiros. Já numa parada escrita, você está fazendo história, imortalizando uma obra, um péríodo de sua vida.

OutroMundo: E como voce começou a produzir?

Marcello Gugu: Começei a produzir por que precisava de beats. Não queria apenas usar os gringos, queria ter os meus. Começei usando um programa num playstation, da mtv, fazia beats toscos demais, uns timbres bons de rhodes, porem baterias e linhas de baixo horriveis, passei pelo Hip-Hop e Jay e no momento trabalho com o Acid e o Fruity Loops. Acredito que é necessario também se estudar música, pra que se tenha uma noção maior de produção, por isso de vez em quando estou recorrendo a amigos músicos pra me explicarem e me ensinarem algumas coisas. Produção é algo muito amplo e complexo, tem que se trabalhar com afinco afim de ter um resultado concreto. No momento deixei os beats de lado pra trampar nas letras, mas pretendo voltar logo mais.

OutroMundo: Atualmente você esta trabalhando no que? Planeja lançar algo em breve ai?

Marcello Gugu: No momento estou correndo com a Afrika Kidz, a organizadora das batalhas do Santa Cruz, e temos alguns projetos para esse ano. Um membro da crew, LTA ganhou a batalha do Manos e Minas, promovido pela TV cultura, como prêmio ganhou a gravaçao do CD solo. Estamos trampando nisso, dar suporte e assistência para que o CD tenha uma qualidade classe e uma receptvidade manera. Quanto a projetos pessoais, creio que esse ano coloco algo na rua, um EP acredito eu. Tenho conversado com algumas pessoas, visto alguns beats e trabalhado nas letras. Acredito que irá sair algo com qualidade. Trabalho atualmente também no Zoeira Hip Hop junto com o Mc Lenda, Patchol's familia (salveeee Lenda), e acredito que por lá tambem vao pintar algumas novidades, tudo no seu devido tempo e momento.

OutroMundo: Nos fale um pouco do Afrika Kidz Crew, qual é a formação, e qual é o intuito?

Marcello Gugu: O Afrika Kidz saiu da uniao de três amigos, Francisco, Julio e eu. No momento possuimos 9 integrantes: Ericone, Rafaela, 10=, Lta, Bitrinho, Loko da Sul, Marcello GuGu, Andrei P.R e Julio D.flow. Iniciamos a batalha do Santa Cruz, a três anos atrás, ainda continuamos lá e temos no momento como principal objetivo divulgar nosso trabalho e batalhar pra que as novas gerações tenham mais espaço dentro, desse enorme movimento chamado Hip-Hop, acreditamos que ao fazermos música boa, inspiramos os demais a fazerem também. Estamos trabalhando em alguns projetos, mas que no momento certo iremos divulga-los.

OutroMundo: O Freestyle apresenta um quadro de vários MC's "deixando" o freestyle pra fazer um álbum, um Ep etc. Como você vê isso uma "evolução"?

Marcello Gugu: Acredito que nao é uma evolução, mas um amadurecimento. Foi aquilo que falei la em cima, o freestyle é o momento virando música, porém a escrita é a historia registrada. Acredito no freestyle como um trunfo sempre, um momento de descontração, uma brincadeira seria HAHAHAHAHA'. Porém, história é feita de álbum, o disco marca aquele periodo da sua vida, suas ideias, seus ideais, seu momento em relaçao, ao mundo. Após voce morrer, o disco vai continuar a existir, vai continuar a ser ouvido e tem coisas que nao mudam. Se você pegar um disco chamado 'Like Water For Chocolate' do Common e comparar com nossa atual situação no mundo, muitas coisas vao ser semelhantes, o mesmo com Nas, Tupac e outros. O mesmo com MC Jack, Pepeu e Thaide. O freestyle te ajuda a se destacar, faz você ganhar nome rápido, porém o disco eterniza voce, te faz pras gerações futuras um clássico.

OutroMundo: Como voce vê esse atual cenário 'underground', 'alternativo' do RAP? Os caras novos e os antigos que estão fazendo ainda?

Marcello Gugu: Pô cara, esse ano eu tomei uma postura diferente em relação aos rótulos do rap. No primeiro dia da Santa Cruz, fiz uma poesia quie tinha escrito sobre o Hip-Hop, depois disponibilizo pra vocês. Atualmente eu tenho acreditado numa parada, cada um que faz o Hip-Hop é o Hip-Hop entende? É o que o KRS falou mesmo, sem essas de gangsta, mainstream, underground. A gente tem que começar a se ver como irmão, como uma cultura só. Nós somos o Hip-Hop. Quanto ao cenário atual, tenho gostado de muita coisa que ouvi. Relatos da invasão, o disco do Kamau, Dr. Caligari, Contra Fluxo e Fluxo, gostei tambem do CD do Nucleo, casa de caboclo entre outros. Acredito que vamos entrar numa safra muito boa de MC's e que o futuro do Hip-Hop nacional está garantido desde que trabalhamos o tanto quanto acreditamos que vai da certo. Se acreditamos muito, trabalharemos muito. 'voce é do tamanho do seu sonho' (Brown)

OutroMundo: De que forma você se sente influenciado com a leitura?

Marcello Gugu: Cara, leitura pra mim é essencial. Quanto mais você ler, mais informado fica e mais atualizado fica. O Dead Prez tem uma frase foda que é tipo 'Know Your Enemy' (conheça seu inimigo). Quanto mais informado a gente estiver, menos enganado vai ser, menos ludibriado vai ser. Acredito que leitura é essência pra vida, independente do caminho que você siga, seja fazendo RAP ou ciências.

OutroMundo: O que mais te influencia fora da música?

Marcello Gugu: Eu leio bastante. Curto muito tipo de leitura, desde gibi até jornal. Sou um cara bastante aberto em relação a 'ler'. Musica é minha vida, entao quase tudo que descobri, foi através dela. Antes andava de skate, isso influenciava pra caramba, hoje não mais, acho bem classe, mas estou ficando velho pra isso, HAHAHAHAHA'.

OutroMundo: E na música, o que te influencia?

Marcello Gugu: Bom musicalmente falando, tenho um pai que é músico entao sempre cresci ouvindo várias coisas diferentes, de Wu-Tang a Phill Colinns, mas sou meio de fase, atualmente tenho me identificado muito com Termanology, uns beats do K-Saalam e BeatNick, tenho escutado também muita musica antiga. Em geral, curto muito soul e funk dos anos 70/80 mas escuto muita coisa, desde rock ate drum bass.

OutroMundo: E o que você acha dessa parada do Hip-Hop na internet? Acha que a internet ajuda ou não pro crescimento disso tudo?

Marcello Gugu: É uma ferramenta muito importante, uma ferramente extremamente fundamental em matéria de divulgação, é uma coisa que derruba as barreiras e limitações de distâncias geográficas. Mas tem pessoas que não usam de maneira correta eu diria, como por exemplo disponibilizando álbuns nacionais recém lançados. Mas acho que o lado bom, supera o lado ruim.

OutroMundo: Você acha que o CD físico, sobreviverá ainda por muito tempo?

Marcello Gugu: Sim, assim como a fita K7, vinil, vai vender em sebo e tal. Acredito muito em podcast's, mas acho que sobreviverá.

OutroMundo: O que você tem escutado ultimamente?

Marcello Gugu: Termanology, K-Sallam e Beatnicks, um disco de remix do Common, Relatos da Invasao, Blu e Exile e Cesar Comanche. Uma listinha dos 6 tops ai de ultimamente.

OutroMundo: Bom mano, esse momento e seu, deixe agradecimentos, recados, cobranças, contato pra show, link's etc.

Marcello Gugu: Queria agradeçer primeiramente a Deus, a minha família e a todos que apoiam o trabalho que a gente faz. Agradeçer a vocês Neto e Cauê que me convidaram pra fazer essa parada aqui, me permitiram expressar um poco da minha visão de mundo, obrigado. Gostaria de agradeçer a Afrika Kidz por permitir que o sonho do Santa Cruz permaneça vivo e por serem quem são, agradecer a toda equipe do Zueira, Nyack, Dandan, Sleep, Selectors em especial a Elza e ao Lenda! ai tiu é noiz! Agradecer ao Saravejo, Ju, Chicano, Projeto Nave! Tamo junto e agradeçer a todos que prestigiam o RAP e que fortaleçem pra que cresca da forma mais sadia possivel. A rua é noiz familia! PAZ!

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Um comentário:

Pedrinho disse...

É isso ae gugu
mando muito..
Sempre em frente...

 
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